Analisando o pensamento de Freud, em comparação com Melanie Klein, consigo entender a perspectiva de Freud sobre a sensação de prazer da criança ao ser alimentada pela mãe. Ele explora as fases do desenvolvimento infantil e sua influência na vida adulta. A comparação que Freud faz com Darwin, relacionando-a ao comportamento animal, torna-se pertinente.
Contudo, acredito que não se trata necessariamente de prazer, mas sim de uma necessidade de sobrevivência. Ações como comer, beber e aquecer-se são intrínsecas à sobrevivência humana. A satisfação dessas necessidades básicas proporciona uma sensação confortante, que pode ser interpretada como prazer.
Melanie Klein, por sua vez, analisa a amamentação como um ato de entrega da mãe para o filho, estabelecendo um vínculo de amor, entrega e carinho. A ausência dessa entrega pode gerar transtornos no futuro adulto (filho ou filha). Concordo com essa perspectiva, assim como com a ideia de que o excesso de amamentação, prolongado além do tempo necessário, também pode acarretar problemas.
Observei em uma família um exemplo prático desse processo de desenvolvimento. A mãe teve uma filha cuja amamentação se estendeu por um período prolongado. Anos depois, teve outra filha que não foi amamentada. E, de fato, existem problemáticas distintas em ambas as situações.
A primeira filha, que vivenciou o excesso, desenvolveu-se como um adulto carente e sentimentalmente frágil. Sua necessidade de autoafirmação ultrapassa seus próprios limites, e a busca por felicidade e realização é constante.
Já a segunda filha, que não teve o contato da amamentação, apresenta traços de uma pessoa revoltada, odiosa e com tendências persecutórias, chegando a criar situações fictícias nas quais acredita piamente.
Entretanto, acredito que a questão central não reside no ato da amamentação em si, mas sim na proximidade e no vínculo entre mãe e filho.
Essa análise despertou diversos "porquês" em minha mente. É evidente que ambas as filhas carregam problemáticas em seu subconsciente, demandando tratamento psicológico para uma melhor qualidade de vida.
No entanto, a questão mais profunda que me intriga é que psicólogos e psicanalistas frequentemente focam apenas no paciente e seus traumas, talvez negligenciando o contexto familiar mais amplo.
A medicina dedica grande atenção às doenças genéticas, comprovando clinicamente a hereditariedade de condições como diabetes, hipertensão, câncer, entre outras.
Creio que, neste século XXI, com tantos avanços tecnológicos e facilidades disponíveis, precisamos compreender por que existe um número tão significativo de pessoas psicologicamente doentes.
Muitos expressam a opinião de que a superproteção dos pais tornou os filhos frágeis e propensos a transtornos ao se depararem com os desafios da vida cotidiana. Concordo com essas observações, pois, frequentemente, esses críticos vivenciaram uma criação mais rigorosa no passado e testemunham a diferença nos métodos de criação atuais.
Minha análise vai um pouco além. Em épocas passadas, os pais eram criados sob forte pressão e exigência. Foram obrigados a enfrentar o cotidiano com resiliência e determinação, onde expressar emoções como desabafo, choro ou desistência era visto como fraqueza. Essa repressão emocional fez com que eles ignorassem o que guardavam em seu subconsciente.
Ao formarem suas próprias famílias, esses pais, muitas vezes, transferem seus traumas subconscientes para os filhos. É nesse contexto que surgem frases como: "Não quero que meus filhos passem pelo que eu passei"; "Na minha época..."; "Eu não tive as coisas que você tem".
Como iniciante nos estudos da psicanálise, reconheço que não sou especialista no assunto. Contudo, uma pergunta me assola: será que existe uma hereditariedade de doenças psíquicas, assim como há para as doenças clínicas?
Deixo essa questão para os mestres da psicanálise. Seria necessário incluir os pais no tratamento psíquico dos pacientes?
Na época em que vivemos, com a liberdade de falar e se expressar, filhos (pacientes) adoecem psicologicamente devido às doenças psicológicas não resolvidas de seus pais, que foram abafadas em suas respectivas épocas. E assim, essa dinâmica se perpetua de geração em geração.
1ª Parte
Juliana Marques